terça-feira, 29 de setembro de 2015

Parte I. Sobre a mobilidade urbana.

Ultimamente tenho visto uma onda em prol da melhoria da mobilidade urbana com o fomento ao uso de bicicletas. Acho isso muito bom. gosto muito mesmo. Mas tenho algumas ressalvas. Discutirei isso mais tarde.

Obs.: Os links das matérias citadas aqui estarão no final da postagem.



No dia 15/09/2015 li uma entrevista do @danielguth, um conhecido ativista da ciclo-mobilidade urbana de São Paulo, em sua coluna na Folha (@folha) com o espanhol Alvaro Neil (@biciclown), que está viajando o mundo de bicicleta pelo mundo, questionando o que ele (Alvaro) acha da cidade pela vista do ciclista/ ciclo-viajante.

A história do espanhol é marcante, mas não muito diferente de outras que já li nas interwebs sobre o mesmo ponto: "largar tudo e sair pelo mundo de bicicleta/ de carro/ de moto/ de carona/ etc. O prefácio dessas histórias normalmente são beemmm semelhantes bem como a motivação que os levou a tal feito e o que normalmente muda é o meio de locomoção que cada um usou/ usa. É uma bela iniciativa, não tenho dúvidas. E com certeza muda a cabeça de qualquer um. Aprende-se a viver com muito menos, as vezes menos que o necessário, mas nunca ouvi um relato de alguém que começou uma trip dessas e desistiu. Deve haver, mas quem o fez não contou pro mundo.

Segundo Alvaro, “Tem duas cidades no mundo que são impossíveis de acessar de bicicleta: São Paulo e Las Vegas”. Não tenho como opinar sobre isso porque nunca fui a Las Vegas e quando fui a São Paulo não o fiz de bike. Mas pelo que conheço de sampa, a treta pra quem pedala pela cidade lá é bem grande. Como a maioria que já vi, dos que saem por aí pedalando sem olhar para trás ou que têm condições de ir ao trabalho de bike por morar "perto", costuma fazer parecer, o carro na cidade é um demônio. É como várias raposas num galinheiro.

A entrevista mostra dados interessantes sobre a viagem de Alvaro. Afinal de contas, "Desde 2004 já foram 148 mil km de bicicleta, 70 apresentações de palhaço, mais de 20 palestras pelo mundo falando do projeto. Escrevi 5 livros e fiz 5 documentários até hoje.", disse o espanhol. Certamente as experiências que esse cara já teve devem ter sido realmente fantásticas. No mais, as perguntas da entrevista são direcionadas (e na minha opinião tendenciosas também) de forma que um usuário de bicicleta como ele tenha mais a reclamar de uma cidade como São Paulo que a elogiar. Não gosto desse tipo de postura. E São Paulo tem muita coisa boa.

NUNCA VI UMA MATÉRIA COM UM USUÁRIO DE TREM/ METRÔ/ ÔNIBUS QUESTIONANDO SOBRE O QUE ELE ACHA DA "FACILIDADE" DA CIDADE PARA BICICLETAS OU SE ELE USARIA BICICLETAS PARA TRABALHAR SE HOUVESSE "MAIS ESTRUTURA" NA CIDADE PARA PEDALAR.

Pedalar é questão de gosto! Eu AMO! Tem gente que não gosta ou tem medo e respeito isso.

Voltando...
Parte desse post foi escrita no "Dia Internacional sem carro" (22/09) e nesse dia li mais duas matérias sobre o assunto "mobilidade urbana". A primeira delas era do pessoal que repudia datas como essa e ama carros. E a outra, uma entrevista com o @danielguth sobre a suposta questão "carro vs bicicleta" na cidade. Achei ambas meio extremas do ponto de vista dos autores mas procuro ver o que há de bom e de ruim em ambos pensamentos para formular o meu.

Na primeira, fica meio óbvio o "discurso de ódio" para com a causa da mobilidade urbana pela bicicleta e, talvez, pela bike em si. O autor chega a mencionar que bicicleta é meio de transporte egoísta por transportar uma só pessoa por vez enquanto o carro transporta, pelo menos, cinco pessoas. Concordo com os números mas discordo quanto ao "transportar 5 por vez...". Trabalhei precisando usar carro dos últimos 3 anos até julho último e quando precisava ir ao centro do Rio de carro eu tinha vontade de chorar. Mas o importante é que não recordo de ver muitos carros cheios no mesmo trajeto que eu tomava. Normalmente eram 2 e no máximo 3 pessoas. Sem contar o trânsito de pelo menos 2 horas pra um percurso <40 km por uma via expressa! Sem contar também que carona solidária é um caso não muito comum nos dias de hoje. A galera tem tanto medo de dar carona quanto de andar de bike em meio ao trânsito urbano. E estou contando caronas para desconhecidos também. Afinal, tendo cinco lugares, o ponto de ônibus ou estação de trem mais próxima certamente encheria o carro com pessoas para o mesmo destino do motorista. Em contrapartida, acho o carro indispensável para dias de chuva ou muito frio, ocasiões especiais e mesmo para viagens (tenho uma vontade enorme de viajar para o nordeste de carro). É fato que carro é ótimo e ajuda muito no conforto da vida mas ainda não consigo me ver comprando carro tão cedo com os preços praticados no Brasil enquanto escrevo isso. Ao contrário, tem sido difícil ir de trem ao trabalho e por isso estou me organizando pra começar a ir de bike. Por opção! Mas falarei sobre esse "projeto" em outro post.

Voltando de novo...
O que acho lastimável é o discurso odioso que tem se levantado contra a escolha da bicicleta como meio de transporte e a visão de competição que alguns motoristas tem adotado ou desenvolvido. Isso mata e tem matado ciclistas. O diálogo sobre esse pensamento foi o que saltou aos meus olhos na segunda matéria, que achei mais sensata que a primeira.

O título da matéria diz que "o direito de ir e vir não é direito de dirigir" e como motorista concordo com isso. Exemplo disso é que se chegar a um pedágio e não tiver dinheiro você tem 3 opções:

1- "desenrolar" pra tentar conseguir uma liberação;

2- ligar pés alguém e pedir que traga dinheiro para pagar o pedágio; ou

3- deixar o carro no posto de pedágio e seguir a pé ou de outro meio que não o carro.

Nesses casos, seu direito de dirigir foi cerceado, mas seu direito constitucional de ir e vir não!

O que discordo é que o texto faz parecer que somente motoristas têm esse sentimento de "perda de direitos". Isso não é verdade. Isso fica claro o debate "bicicleta ou carro?" se inicia. Vê-se claramente os mesmos argumentos de ambos os lados.


Matérias citadas:

“Mais do que uma opção, bicicleta é uma necessidade em SP”, diz ciclista espanhol

DIA MUNDIAL DA OFENSA AO CARRO

Direito de ir e vir não é direito de dirigir, diz ativista em mobilidade urbana

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